Há experiências exauridas que afrouxam o acontecimento, mas há experiências que
repactuam endereçamentos. É o caso de Ulisses, personagem marcado por sua vida
medíocre, que, ao experimentar os gracejos do poder, gradativamente vai perdendo tudo o
que adquiriu, envolvido em artimanhas também hipostasiadas pelas sombras de pessoas e
circunstâncias, empalidecendo sua existência desprovida de coragem. Ulisses é o homem
das sombras, em cuja existência, ardida da penumbra, acossa-se das melhores tentativas,
até que conhece o fundo e vê-se só. Nada pode ser mais próprio a uma existência covarde
do que a possibilidade de se sentir só, pois ninguém pode sentir-se livre, se não puder
experimentar a si mesmo. Mesmo incertos os caminhos e a imposição de uma chegada que
somente pode ser antevista, há um resto de afeto a sacudir seu destino, emprestando a
Eros sua força persuasiva. Embrenhar-se em si mesmo é o fundamento ontológico para se
acolher a medida certa, aquela que difere o veneno do remédio, phármakon, respaldando o
impulso vital. É inegável que o autor se arrisca pelo lugar-comum, apresentando uma
história circunscrita pelos meandros naturalizados da vida pública: não há uma novidade
no modo como é apresentado o personagem/tema central da narrativa. Por outro lado,
insinua uma perspectiva que pode agradar aos que ainda apostam no bom senso e no
efeito pedagógico da amorosidade.